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terça-feira, 31 de maio de 2011

Algumas acepções da palavra Logos


O termo logos (do grego legein, do latim verbum), é conceito central da filosofia grega. Possui inúmeras acepções em diferentes doutrinas filosóficas, variando às vezes no pensamento de um mesmo filósofo e é, talvez, o mais importante de todo o vocabulário filosófico, mas, não pode ser traduzido facilmente porque contém uma pluralidade de significados ligados entre si. Na língua grega clássica equivale a palavra, verbo, enunciado, definição, discurso, explicação, cálculo, medida, avaliação, razão, causa, pensamento, necessidade, e outros mais. Supõe-se que em seu sentido etimológico originário de reunir, recolher, está contido o caráter de combinação, associação e ordenação do logos, que dá sentido às coisas.
Logos, no grego, ora significando inicialmente a palavra escrita ou falada — o Verbo. Mas a partir de filósofos, como Heráclito, passa a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico de ordem e beleza. Com Sócrates tem-se, por exemplo, o termo logos como palavra, conversa, e em outro sentido, passa a significar a razão que se dá a algo, é a razão dada ao mesmo, mais propriamente conceito.
Então: O que é logos? A terminologia do logos tem um sentido polissêmico? Quais os sentidos do logos?

1) Primeira parte: mýthos e logos
Jean-Pierre Vernant, busca esclarecer a importância e o lugar do logos alethés (palavra sagrada) anterior à sua transformação, por assim dizer, em logos filosófico. A fundamental questão é a de quando, como e porque se dá a separação entre o mýthos e logos?
O mito, faz parte da psyché humana, é um modo de ler o mundo, não é irracional, como querem alguns. A palavra irracional, hoje, é extremamente pesada para explicar o pensamento mítico; afinal, ele é um pensamento bem estruturado, porém sem necessidade de provas, de argumentos. Seu valor de verdade não é aferido por sentenças, não se trata somente da linguagem, do logos como discurso argumentativo, pois a psyché é bem mais extensa que a criação do pensar-dizer na forma sentencial. Ambas as palavras, mýthos e logos, têm praticamente a mesma origem e uso iniciais, mas, após ocorrer uma diferenciação no uso, o mýthos fica vinculado às narrativas acerca dos deuses, e o logos, reveste-se do aspecto lógico da filosofia. Mas onde está a verdade (aléthea)? No mito ou no logos? Segundo Vernant: a verdade (aléthea), não pode ser separada da ordem ritual, da prece, ou do direito, ou ainda, da potência cósmica. Sendo o Logos alethés - palavra divina e verdadeira, dispõem dela, os basileus (reis), os sacerdotes (advinhos) e os aedos (poetas), sendo que estes últimos, as recebem diretamente da divindade, mediada pelas Musas, filhas de Zeus e Mnemosyne. Inspiram o poeta ditando-o ao seu ouvido, fazendo dele um mero porta-voz do divino (théos). Logo, mýthos é da ordem do legêin, como indica o composto mythologêin, mythología, e não contrasta inicialmente com logoí, termo cujos valores semânticos são vizinhos e que se relacionam às diversas formas do que é dito. Num determinado estágio da sociedade grega, os dois conceitos, mýthos e lógos, não apresentam grandes diferenças entre si. E a palavra formulada no contexto de uma narrativa sagrada como a Teogonia que narra a origem dos deuses, por Hesíodo, tanto pode ser considerada mýthos como hiéros lógos (discurso ou palavra sagrada). Só muito mais tarde essas palavras do vocabulário épico caem em desuso e são praticamente substituídas por lógos e legêin. Ao que parece, é esse processo de substituição que gera a ideia posterior de oposição entre mýthos, que fica associado aos hiéroí logoí, e lógos, que passa a ser associado à Filosofia.
Para melhor compreender o fenômeno comum ao processo de evolução linguística, onde há ambiguidade lexical, ou seja, a palavra tem mais de um significado, a palavra lógos, contribui para isso, por exemplo, o seu uso no âmbito das matemáticas e da teoria da música dos pitagóricos, uma vez que o significado original do termo mythologêin (reunir, contar) é mais apropriado aos números. O significado originário da palavra reunir, contar, remete ao âmbito racional dos números e das relações entre números no qual o conceito de lógos se constitui pela primeira vez. A partir desse contexto se generaliza a palavra lógos como conceito contrário a mýthos. Em oposição àquilo que refere uma notícia que se sabe somente graças a uma simples narração, ciência é o saber que repousa sobre a fundamentação e a prova.
Observa-se nessa primeira parte, de que com o tempo, as duas palavras: mito e logos passam a ser utilizadas em oposição: uma, dado o uso associado à épica, passa a designar as narrativas sobre os deuses; outra passa a ser usada para designar a palavra do filósofo que, em oposição à narrativa sagrada, é objeto de reflexão e, eventualmente, até de comprovação. Desvincula-se, assim, a palavra que discorre acerca do ser e das coisas, a palavra-movimento, da palavra que simplesmente narra a história dos deuses como um fim em si mesma.

2) Segunda parte: o logos como discurso, razão, definição, faculdade racional, proporção
Uma das maiores dificuldades na interpretação do logos é: Como determinar quando é que esta palavra grega comum e amorfa está a ser usada num sentido técnico e especializado? Por isso, Heráclito, no qual desempenha pela primeira vez papel de relevo, a emprega frequentemente no seu uso comum, mas também tem uma doutrina especial que se centra em volta do logos num sentido mais técnico: para ele o logos é um princípio subjacente e organizador do universo, relacionado com o significado comum de logos como proporção (DK 1, 50), a lei da mudança tão frequentemente associada ao pensamento de Heráclito (DK 60, 111). E esta harmonia que é na realidade uma tensão de opostos não deve ser entendida no sentido de um retorno cíclico, mas sim como um estado estável (DK 10, 50). Este princípio do lógos, embora seja oculto e perceptível apenas para a inteligência (DK 54, 114), é ainda material, como se pode ver pela identificação do logos heraclitano com o fogo cósmico (DK DK 41, 64), e a sua descrição do processo de pensar (DK 16, 22). Platão também usa o termo logos de vários modos, no Fédon salienta, como característica do verdadeiro conhecimento (episteme) a capacidade de fazer um relato (logos) daquilo que se sabe.
No Teeteto este aspecto do logos está incorporado na definição de episteme: opinião verdadeira (doxa) acompanhada de um relato. Sócrates discute o que significa logos neste contexto, e da sua análise emerge uma descrição do logos, como a afirmação de uma característica distintiva de uma coisa. A vitalidade deste, é negada com fundamento no fato de não ter valor no caso dos seres sensíveis individuais. Mas, quando esta concepção do logos sobe na escala platônica do ser tem obviamente um papel a desempenhar; Platão descreve o dialético (dialektike) como aquele que pode fazer um relato (logos) do verdadeiro ser (ou essência, ousia) de alguma coisa, é, o termo do processo da divisão (diairesis) descrito no Sofista, a definição (horos) aristotélica por gêneros e espécies; na verdade, Aristóteles usa frequentemente logos como sinônimo de horos, horismos.
Outro uso típico aristotélico, é o logos como razão, racionalidade, particularmente num contexto ético. Também entende o logos como proporção matemática, ratio, uso que remonta provavelmente aos pitagóricos, se bem que não esteja claramente expresso nos seus fragmentos. E, ainda, para a aplicação do logos como proporção ao problema das misturas, holon; para a sensação e o órgão dos sentidos, aisthesis; e, em geral, meson. Na língua grega, discurso se diz logos, a mesma palavra da qual deriva a palavra lógica. Logos é palavra, discurso, argumento e, porque é pelo discurso que enuncia-se aquilo que se pensa, logos é, também, consideração, avaliação, reflexão e juízo (discernimento), ou seja, a capacidade de pensar racionalmente. Logos, também, pode ser traduzido por razão — e assim, em nada perde-se para a definição que aprendemos na escola.
Neste parágrafos, discorre-se fundamentalmente, que para um grego, estas duas coisas são inseparáveis: o discurso para ser produzido depende da razão tanto quanto a razão só se desenvolve no discurso. Mas, ainda há um outro sentido para a palavra logos, assim como para a palavra razão: medida, cálculo, relação, ordem e, por extensão, fundamento, razão-de-ser de algo. Não se trata apenas das capacidades de pensar e de falar. Existe razão nas coisas, quando apresenta-se o porque e as causas delas serem o que são.

3) Terceira parte: logos pessoa divina
O ponto de partida estoico sobre o logos é a doutrina heraclítana de uma fórmula de organização totalmente universal, que os estoicos consideram divina (namos). O logos é a força ativa (poioun) no universo, criadora à maneira do esperma – logoi spermatikoi. Tal como em Heráclito é material e identificado com o fogo (pyr). É também idêntico à natureza (physis). Esta presença que enforma o universo desenvolve-se em várias direções. Quais? Visto que, é uma unidade serve de fundamento à teoria da simpatia cósmica (sympatheia) e da lei natural, bem como ao imperativo ético – viver de acordo com a natureza (nomos). A teoria linguística estóica distingue ainda o logos interior (= pensamento) e o logos exterior (= discurso).
Fílon conhece a distinção entre o logos interior e o exterior, e consegue aplicá-la à maneira ortodoxa estóica (De vita Mos. II, 137), e é, talvez, esta distinção, juntamente com a tradição escrituraria judaica acerca da Palavra de Deus, que o leva ao novo tratamento do logos. No primeiro caso o logos é a razão divina que abarca o complexo arquetípico dos eide que serve de modelos da criação. Depois, este logos que é espírito de Deus, é exteriorizado na forma do kosmos noetos, o universo apreensível só para a inteligência. É transcendente e é Deus, embora não o Deus, mas antes o Filho mais velho de Deus. Com a criação do mundo visível (kosmos aisthetos) o logos começa a desempenhar um papel imanente como a marca da criação, o elo do universo estoico. Fílon difere dos estoicos ao negar que este logos imanente é Deus; para o papel providencial do logos de Fílon, ver pronoia. Fílon dá ao seu logos um papel distinto na criação: é a causa instrumental; é também uma luz arquetípica, reaparece esta última imagem em Plotino, (Eneadas III). Mas, há uma diferença entre os dois pensadores; o que em Fílon é tanto o logos como o nous é dividido em Plotino que usa o conceito de logos de um modo afim aos logoi spermatikoi estoico; onde o nous e o logos são diferenciados.
Logos significando discurso, palavra (verbo), palavra dotada de sentido. O nome transfere-se em seguida ao próprio sentido, ao conceito, ao conteúdo do pensamento, ao verbo interior, que tem sua expressão no verbo exterior, na palavra externa. De modo particular, denomina-se o logos o conteúdo que dá a razão de alguma coisa. Por vezes, denomina-se também logos a esfera integral dos pensamentos, das ideias, do espírito, em oposição à esfera do ente material ou vida orgânica, corporal, ao bios, ou para a distinguir da esfera das ações morais, do ethos; nesta acepção, o termo logos é empregado, quando, por exemplo: se fala da primazia do logos – tudo quanto pertence a este domínio do pensamento pode denominar-se lógico em sentido lato.
Contudo, as mais das vezes, o termo é empregado em sentido estrito, para designar as relações puramente mentais dos conteúdos do pensamento entre si, relações exclusivamente oriundas da maneira abstrata de pensar e que, por tal motivo, não encontra-se na esfera dos existentes, mas são meros entes de razão, exemplificando: a identidade entre o sujeito e o predicado; o lógico, tomado neste sentido, constitui o objeto da lógica. O próprio pensamento denomina-se lógico, quando guarda as leis estabelecidas pelas citadas relações dos conteúdos do pensamento; no caso contrário, é ilógico. Pelo contrário, o qualificativo alógico usa-se com o significado de alheio ao pensamento, à mente; assim, são alógicos os sentimentos e tendências, enquanto se subtraem à direção da inteligência (irracional). Logos designa, também, a ideia ínsita, por assim dizer, na realidade, e até no mundo corpóreo, ou seja, a configuração e forma das coisas determinada pelas ideias, a estrutura plenamente significativa que lhe é imanente.
Devido a esta estrutura e ordem, providas de sentido, o mundo físico converte-se em cosmos, em oposição a um caos absurdo. O termo logos adquire este sentido, quando fala-se da estrutura lógica da realidade (verdade). — O mundo das ideias não tem existência em si mesmo, mas só num ser real intelectual; de modo idêntico, a estrutura inteligível do mundo físico pressupõe um fundamento primitivo real dotado de inteligência. Este fundamento primitivo intelectual do universo, que em si contém todas as ideias, recebe, igualmente, na filosofia antiga, o nome de logos. Heráclito e os estoicos entendem este logos como uma razão universal que penetra e domina tudo (alma do mundo). No cristianismo, sob a influência do estoicismo e através do neo-platonismo, o logos, traduzido para o latim como verbum é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. É o Filho, ou Jesus. Mas, também, o verbo (ou a Palavra) é um tipo de instrumento ou de ajudante, que Deus utiliza para criar o Mundo, conforme se lê no Evangelho de São João: “no principio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus; e o Verbo se fez Carne e habitou entre nós.”
Nesta parte, demonstra-se que para alguns o logos é um ser intermédio entre Deus e o mundo, mediante o qual este foi criado por Deus. S. João Evangelista, no limiar de seu evangelho, contrapõe a ambas as concepções a doutrina cristã do Filho de Deus, essencialmente igual ao Pai e, não obstante, feito homem, ao qual, — aceitando com audácia inaudita a velha expressão grega – chama logos, o único logos verdadeiro. Desde Santo Agostinho, a teologia católica encontra a explicação do nome de logos, no fato de o Filho ser gerado pelo Pai pela via do conhecimento; no Filho, como Verbo ou Palavra do Pai, expressa Este sua essência total e a plenitude de suas ideias.

4) Quarta parte: alguns sentidos e/ou significados do logos derivados de leggein
Logos, que pode derivar de legein (falar ou reunir). É possível que sua origem, derivada de reunir, recolher, tenha lhe dado o sentido, ou o significado, de ser uma combinação, uma associação, e/ou uma ordenação ou organização. Afinal, quais são características ou funções que geralmente se atribui ao logos? Pois, o objetivo da lógica é ordenar, organizar o que antes era disperso e confuso. Como dito acima, em Heráclito já se encontram quatro significados diferentes, mas inter-relacionados, que o termo logos tem na Filosofia posterior. A saber: Como Principio ou Lei Cósmica, ou divina. Sendo a racionalidade do real; isto é, o termo logos indicando que a realidade está ou é de acordo com a racionalidade. Com as leis que regem o raciocínio coerente. O espírito ou a alma do fogo, que para Heráclito, é o elemento (terra, ar, água, fogo) primeiro, primordial, do qual todos os outros derivam. Significando a razão ou o raciocínio ou a racionalidade humana cuja serventia é a de proporcionar a capacidade de entender a realidade.
Na sequência são expostos mais alguns dos significados que o termo abriga: Para Platão, logos é a definição ou uma sentença predicativa (ou frase que contém um adjetivo) que expressa, ou menciona, uma qualidade essencial de algo; ou seja, esse algo não poderia sê-lo se não ter essa qualidade. Em Aristóteles, logos é a sentença (ou a frase que contém uma afirmação ou uma negação sobre o objeto a que se refere) que pode ser verdadeira ou falsa e que expressa (através da fala ou escrita ou da pintura etc.) o pensamento sobre algo. Disso, aliás, é que surge a expressão: logos apophantikós = aquele que manifesta (que mostra, ou revela) algo.
Em Filosofia a Lógica é o estudo da Estrutura (ou do arcabouço e da natureza) e das bases de uma argumentação (ou dissertação, isto é, a defesa de um ponto de vista) considerada válida; principalmente, se tal argumentação é fruto de uma inferência dedutiva (ou deduzida) e acontece após ter seguido normas e procedimentos considerados verdadeiros e válidos. E, claro, após ter sido submetida a testes ou provas que constataram sua exatidão.
Aqui, percorre-se rapidamente a análise de alguns significados da racionalidade do real e o da lógica, onde: o pensamento lógico é aquele que segue determinados critérios, regras e/ou normas (tidas como válidas) para ser formulado e que, por isso, torna-se confiável e, em certa medida, com resultados previsíveis. Pensamentos oriundos dessa maneira de refletir também são chamados de racionais. De certo modo, a lógica pode ser considerada como um padrão que indica como deve ser o comportamento da razão, ou da racionalidade. Considerando o exposto no direcionamento das inferências dos itens acima, pode-se obter as teses de que não se pode pensar que há oposição de sentido entre esses termos, pois tanto os lógoi, os mýthoi podem ser portadores da verdade (aléthea). O logos, o termo tem uma conotação ontológica, e não exclusivamente lógica, na medida em que a mesma designação nominativa – logos – é tomada por algo empiricamente indefinido e inacessível. Na lógica, – lógica é um conceito derivado de logos, e pode ser comparado com a marcha coerente de pensamentos que obedecem aos critérios de ordem, organização, cronologia e congêneres.

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